quarta-feira, 11 de abril de 2012

Historia do Rock n' Roll - Parte 5





Fonte: http://clubrock.com.br/news/historiadorock.htm

Por Simone Paula Marques Tinti

O texto a seguir é parte de um Trabalho de Conclusão de Curso, portanto, possui algumas referências a livros, revistas e outras teses consultadas, de onde foram retiradas algumas citações. Algumas referências encontram-se entre parênteses, outras são indicadas pelo uso de aspas.

“DÁ LICENÇA, ME DEIXA BEIJAR O CÉU?”

Na década de 60, as roupas coloridas, cabelos compridos e o “flower power” tomaram conta da América, mais especificamente da Califórnia, com o movimento hippie. Movidos pelo slogan “paz e amor”, esses jovens que se entregaram à ideologia do pacifismo, do amor livre e das “viagens” de LSD representaram um movimento importante para a contracultura: “o movimento hippie vai construir suas comunidades em meio a um clima astrológico que previa (...)o advento de um novo mundo”(CHACON, 1985. p. 63). Eles esperavam pela “Era de Aquário” em meio à busca pelo prazer: “...não havia lugar para a injustiça social, a degradação da natureza e a opressão humana.”(MUGGIATI, 1985, p. 41)

Neste contexto, acontece o Festival de Monterey, em 1967, quando surge uma nova estrela que teria seu nome gravado na história do rock: Janis Joplin. Essa branca do Texas, que passou a adolescência ouvindo cantoras negras de blues como Bessie Smith e Billie Holliday, “aos 17 anos abandona a família para cantar em troca de bebida nos bares de beira de estrada, seguindo a trilha errante dos cantores de blues” (MUGGIATI, 1973, p. 45). A voz rouca de Janis e sua interpretação nos palcos a tornaram uma das cantoras mais sensuais de todos os tempos; uma de suas frases confirma essa característica, mas também demonstra a sua dor ao lidar com as pressões da carreira: “Faço amor no palco com 25 mil pessoas e depois vou para casa sozinha” (id., 1985, p. 13).

Outro importante artista que deixou seu nome marcado como um dos maiores guitarristas de rock foi Jimi Hendrix. Influência para muitos outros que vieram nas décadas seguintes, Hendrix inaugurou o virtuosismo nas canções de rock; o uso de tecnologia para a distorção de sons, apresentações de contorcionismos com a guitarra e o visual extravagante foram marcas registradas deste astro do rock.

Seu relacionamento quase sexual com a guitarra se assemelha à dança de acasalamento de uma espécie estranha, de uma raça interplanetária. Além das contorções corporais, Jimi joga com as distorções sonoras, arrancando notas incríveis da guitarra, envenenada por uma quantidade de novos recursos eletrônicos. (id., p. 17)

No início, Hendrix formou o The Jimi Hendrix Experience, mas sua carreira se consolidou realmente como artista solo, acompanhado, muitas vezes, por outros músicos. Uma de suas canções mais conhecidas, Hey Joe, conta a história de um marido que mata sua esposa; essa música, inclusive, foi regravada nos anos 90 por uma banda brasileira, O Rappa.

The Doors foi outro grupo que surgiu em 1967 e teve uma curta, porém marcante carreira. Jim Morrison, vocalista e líder da banda, mostrava grande sensualidade no palco. Um dos interesses de Morrison, que também havia estudado técnicas cinematográficas em Los Angeles, era o xamanismo, antiga religião asiática. No dicionário, xamã significa “sacerdote mágico, que entra em transe”, e essa descrição é adequada à postura de Jim Morrison. A música The end, do mesmo disco da clássica Light my Fire, foi incluída no filme Apocalipse Now, de Francis Ford Copolla.

Uma possível explicação para o nome The Doors a inspiração da banda no livro de Aldous Huxley, de 1954, The doors of perception, o qual se relacionava às sensações provocadas pelo uso de drogas. Como explica Muggiati (1973), artistas como Jim Morrison buscavam o efeito da sinestesia em suas canções – “o estímulo que atua sobre um canal sensorial parece evocar imagens de outro canal tão prontamente como se fossem sensações do mesmo ‘modo’”. Para isso, as drogas exerciam papel fundamental: “naqueles dias a vida ou corria muito rápida (como quando se rebobinava um filme) ou então tudo parava, no torpor das drogas (como em câmara lenta).” (id., 1985)

Ainda houve muitos outros grupos que caracterizaram o rock de São Francisco, influenciado pela cultura dos hippies e, conseqüentemente, pelo psicodelismo. Entre eles, The Grateful Dead, Buffalo Springfield, The Byrds, The Mamas and Papas (autores da clássica California Dreamin’), Creedence Clearwater; mas um que merece destaque é o Jefferson Airplane.

Como explica Muggiati (1973), o grito de guerra do Jefferson Airplane, liderado pela vocalista e compositora Grace Slick, era Feed your head! (Alimente sua cabeça). Isso demonstra uma das características do rock desta época, que, além de ser chamado de acid rock (rock-ácido), também ficou conhecido como head-music (música de “cuca”, ou de “curtição”).

Entretanto, em 1970, as mortes de importantes representantes do acid rock abalaram a ligação entre a música e as drogas: Jimi Hendrix é sufocado com seu próprio vômito, depois de uma intoxicação de barbitúricos e Janis Joplin é encontrada em seu quarto, vítima de overdose de heroína. No ano seguinte, Jim Morrison morre devido a uma parada cardíaca. Os três formaram a chamada “Santíssima Trindade Trágica do Rock”, como compara Muggiati, e marcam uma época de transição - a partir de 1970, o rock sofre uma nova mutação.

A Invasão Inglesa

Antes da história continuar na América, é preciso se deslocar para a Inglaterra. Desde o início da década de 1960 o país apresentava uma movimentação no cenário do rock, bandas se apresentando nos pubs (bares) londrinos. Neste contexto, os jovens protestavam contra a corrida nuclear e o passado histórico do país justificava as manifestações desta geração: “...os ingleses tinham a II Guerra, o colonialismo, o espírito vitoriano e outras imagens e culpas da História que pareciam alimentar muito mais a produtividade musical...” (CHACON, 1985, p. 30) Musicalmente, era comum entre os artistas britânicos a referência ao skiffle, um ritmo de percussão baseado nos sons de instrumentos improvisados.

Assim como na América o consumo foi supervalorizado no início da história do rock’n’roll, este também o foi na Inglaterra a partir de 1960 e mais uma vez o cinema procurou retratar esses valores. Nesta época foram produzidos os filmes da série James Bond, em que o personagem é um espião perseguindo seus objetivos a qualquer custo.

A classe que ascendeu na Inglaterra foi a operária, que finalmente, sob a influência do blues, deu os primeiros passos para o surgimento de importantes grupos de rock. Inclusive, uma cidade operária – Liverpool - foi o berço de uma das principais bandas da história do rock – e talvez a principal: The Beatles.

O Submarino Amarelo

No início de 1956, John Lennon formou o conjunto The Quarrymen, que nada mais era do que uma reunião informa de amigos. O grupo se estabilizaria em 1960, com Paul McCartney e George Harrison como guitarristas, Stu Sutcliffe no baixo e o baterista Pete Best.

Neste mesmo ano, The Quarrymen deixa de existir; em seu lugar, surge uma “banda profissional de rock’n’roll’, os Beatles. O nome foi uma combinação da palavra beetle (besouro) com uma expressão comum à época para o rock: música beat. A referência aos insetos foi uma homenagem ao grupo de Buddy Holly, chamado Crickets (grilos).

Em 1962, os Beatles foram tocar em Hamburgo, Alemanha, quando encontraram o baterista Ringo Starr, que tocava com os Hurricanes. Pouco tempo depois, ele substituiria Pete Best. 
Finalmente em agosto deste mesmo ano, o grupo entraria nos estúdios de Abbey Road para a gravação do primeiro compacto da banda, com as músicas P.S. I Love You e Love me Do. Nesta época, Stu Sutcliffe havia deixado os Beatles e Paul tomou a posição de baixista do grupo. 

Com o segundo single, Please Please Me, os Beatles alcançaram o topo das paradas britânicas. A esta altura, Brian Epstein já era o empresário da banda; sua disposição e talento em vender a imagem do grupo o transformaram no “quinto beatle”.

Em 1963, apenas um ano depois do primeiro lançamento dos Beattles, a Beatlemania eclodiu na Inglaterra. Brian Epstein e o produtor George Martin, da EMI, decidem partir com a banda para os Estados Unidos, cientes da popularidade do grupo. Em 1964, os Beatles conquistam a América com I Want to Hold Your Hand. A apresentação da banda no programa de televisão de Ed Sullivan – o mesmo que tinha lançado Elvis Presley – foi a alavanca para que a mídia norte-americana passasse a publicar matérias sobre os “Fab Four” (como eram conhecidos).

Ainda neste mesmo ano, os Beatles lançam seu primeiro filme, A Hard Day’s Night, em que representam a banda sendo perseguida por uma legião de fãs fanáticas. A trilha sonora do filme trouxe canções como Can’t Buy me Love e a romântica And I Love Her – a primeira de uma série de baladas de Paul McCartney.

Durante os shows dos Beatles, quase não se ouvia suas músicas, devido à quantidade de garotas que gritavam histericamente pelos músicos. A partir de 1965, o grupo passou a se preocupar mais com as composições, deixando o amor romântico de lado e empenhando-se em explorar outros temas. O disco Rubber Soul, lançado neste mesmo ano, marca o amadurecimento da banda, visível na crítica social de Nowhere Man ou nas referências abstratas de Norwegian Wood, entre outras composições deste disco.

O ano de 1966 marca a primeira experiência dos Beatles com o LSD (até então, a maconha era a droga mais consumida). Revolver, lançado neste ano, confirmou a mudança de direção que apenas havia sido esboçada no álbum anterior. George Harrison aparece como um compositor importante, colocando suas referências à música indiana, como o som de cítara em Love to You. Neste disco, a dupla de compositores Lennon-McCartney praticamente se desfez, na medida em que o vocalista geralmente era o autor da canção que interpretava.

Junto com a mudança de rumo da banda, também veio a decisão de parar com as turnês. Com mais tempo livre, cada beatle resolveu se isolar por um tempo. Nesse meio tempo, John Lennon conheceu a artista plástica Yoko Ono, George Harrison viajou Índia, Paul McCartney voltou a estudar artes e Ringo Starr saiu de férias.

Em 1967, eles se reuniram novamente para a produção do álbum que mudaria definitivamente os padrões do rock’n’roll: o experimental Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.

Apropriadamente chamado de cabaré alucinatório (...) o álbum dá a idéia de um concerto o vivo – o barulho de público e a faixa título introdutória são seguidas pelo resto das canções, por um refrão final de Sgt. Peppers, e o bis, ou epílogo, A Day in the Life. (FRIEDLANDER, 2002, p. 135)

Na verdade, este álbum foi concebido como a materialização de uma fantasia dos quatro integrantes da banda, que introduziram elementos artísticos inovadores em cada uma das canções. Ele foi composto como uma colagem, em que o trabalho do produtor George Martin foi fundamental para tornar possível as experimentações sonoras pretendidas pelos Beatles. Na música A Day in the Life, por exemplo,a banda quis introduzir no final uma nota audível somente pelos cachorros; realmente, fica a impressão de um espaço “vazio” quando se escuta esta música. A capa de Sgt Pepper’s também demonstra o experimentalismo pretendido pelo grupo; personagens admirados pelos Beatles, como Karl Marx, Jung, o Gordo e o Magro, William S. Burroughs, Aldous Huxley, amigos como Dylan, Sutcliffe e os Rolling Stones, povoam a colagem de um retrato acima de um jardim de maconha (imperceptível aos executivos da gravadora).

Em agosto de 1967, os Beatles são atraídos pela meditação transcedental do guru indiano Maharishi Mahesh Yogi. Enquanto eles buscavam por uma regeneração espiritual, recebem a notícia de que Brian Epstein havia morrido, por excesso de remédios para dormir –esse fato foi como um presságio para a dissolução da banda poucos anos depois.


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